Conexão entre Pesquisa e Empresas

O modelo Fraunhofer surgiu para desenvolver a ciência e a indústria de forma conjunta, com foco em trazer inovação de ponta e tecnologia para toda a sociedade.

Um pouquinho da História... 

 

A Sociedade Fraunhofer para promoção da pesquisa aplicada (Fraunhofer-Gesellschaft zur Förderung der angewandten Forschung e.V.) nasceu no dia 26 de março de 1949, um sábado, diante de uma plateia formada por 210 cientistas, pessoas de negócio e políticos no hall de conferência do Ministério de Relações Econômicas da Bavária, pelo convite do Secretário de Estado Hugo Geiger. Essa era uma questão urgente para Geiger, que achava que "havia uma falta de apoio à pesquisa aplicada por meio de um vínculo direto e permanente entre as empresas e a ciência".

 

Apesar de ter nascido em 1949, apenas em 1972 foi produzido um rascunho, mais ou menos sem ajuda, por Max Syrbe, que serviu de base para outras consultas. Helmar Krupp se juntou-se a Syrbe. A equipe apresentou seu plano preliminar para pesquisa, organização, expansão e finanças. Com quase 100 páginas, seu conceito se afastava substancialmente da ideia central da comissão de expansão, que defendia um orçamento garantido como forma de fortalecer a pesquisa aplicada

 

As repercussões foram imensas. Afinal de contas, o novo conceito representou uma ruptura total com o pensamento padrão da administração de um instituto. Ele propunha a divisão das atividades de pesquisa de um instituto em pesquisa interna (In-House), pesquisa de estrutura (Framework) e pesquisa de contrato (Contract Research), sendo que a pesquisa Framework e a de Contrato representariam dois terços das atividades totais de um instituto. Em outras palavras, um instituto seria forçado a obter dois terços de seu próprio orçamento. 

 

Igualmente revolucionária foi a proposta relativa à alocação de financiamento, uma vez que ela se afastou totalmente do procedimento habitual: a ideia era que o financiamento básico deveria aumentar em proporção direta ao crescimento da renda proveniente de pesquisas Framework e Contratadas. Na verdade, a própria ideia de que os institutos deveriam se concentrar em pesquisas contratuais e orientadas para o mercado provocou o protesto de muitos diretores de institutos, principalmente daqueles que trabalhavam em áreas até então distantes de qualquer interesse comercial. 

 

Muitas discussões aconteceram, uma vez que os diretores dos institutos queriam que o financiamento básico fosse fixo. Isso facilitaria a vida dos institutos. Porém, agora eles seriam forçados a concordar com um sistema subsídios variáveis. Isso faria com que houvesse uma pressão enorme para garantir novos contratos de pesquisa, e poucos achavam que estariam à altura. Houve uma oposição ainda maior por parte do Ministério da Fazenda. As autoridades de lá ficaram chocadas com o que o Ministério da Ciência havia elaborado, já que o novo modelo divergia radicalmente dos princípios de ferro fundido das finanças do Estado. Para o Ministério da Fazenda, o financiamento básico relacionado ao desempenho significava comprometer-se com despesas futuras sem saber o quanto isso implicaria.

 

Foi somente depois de meses de disputa que se chegou a um acordo. Com base nisso, após anos de discussão e conflito, o comitê do gabinete para educação, pesquisa e tecnologia finalmente conseguiu aprovar uma resolução sobre o futuro da Sociedade Fraunhofer em 3 de outubro de 1973. Havia agora uma firme vontade política de transformar a Sociedade Fraunhofer em uma organização poderosa e eficaz para a pesquisa aplicada e, ao mesmo tempo, explorar novas formas de financiamento de pesquisa com o objetivo de fortalecer o papel da pesquisa por contrato. A partir desse momento, a Sociedade Fraunhofer assumiria um papel duplo - como um parceiro que atende, em igual medida, a indústria e o estado.

Consequências da implantação

 

A introdução desse modelo de financiamento básico relacionado ao desempenho teve enormes consequências. Ele liberou uma enorme energia dentro da Sociedade Fraunhofer e desencadeou um nível de crescimento antes inimaginável. O novo modelo também rompeu o círculo vicioso pelo qual qualquer dinheiro ganho pela Fraunhofer resultava automaticamente em uma redução do financiamento estatal. O desempenho passou a ser recompensado por um aumento nos subsídios diretos. Em vez de cada instituto ter um orçamento e uma equipe fixos, os bem-sucedidos passaram a crescer, enquanto os menos bem-sucedidos tiveram que apertar o cinto. Até hoje, o modelo continua sendo um instrumento de planejamento extremamente eficaz que impõe um ajuste contínuo aos mercados emergentes, incentivando assim os institutos a permanecerem eficientes.

 

Em última análise, foi uma bênção que a relação entre o financiamento básico e a pesquisa por contrato nunca tenha sido fixada em detalhes. Do jeito que as coisas estão, ela pode ser ajustada para acomodar as circunstâncias alteradas na ciência, no setor ou no governo. A proposta original era testar o modelo em um período de cinco anos e depois examiná-lo novamente a cada cinco anos. A capacidade de ajustar tanto a estrutura quanto a finalidade de cada instituto tornou-se uma parte fundamental da nova identidade da Fraunhofer.

 

Lembrando que a Sociedade Fraunhofer é formada por institutos. Em 2021, foram 76 institutos de pesquisa em todas as áreas do conhecimento humano, cerca de 2,9 Bilhões de Euros em orçamento, onde 2,5 Bilhões foram em Pesquisa Pública e Privada e, em torno de 1,75 Bilhões de Euros em Pesquisas Framework e Contratadas.

 

O modelo Fraunhofer propriamente dito

 

Os 3 tipos de pesquisas que constituem a Sociedade Fraunhofer são as seguintes:

 

1 - Pesquisas "In-House": são financiadas pelos governos federal e/ou estaduais alemães. Esse financiamento é o "base funding" dos institutos e variam de acordo com a performance de um instituto Fraunhofer. Representa cerca de 30% do orçamento deste instituto.

2 - Pesquisas Framework: são pesquisas onde parte é financiado por entidades públicas e parte pelas indústrias, sendo projetos de alta complexidade devido ao alto número de parceiros envolvidos em um projeto. São os editais públicos de pesquisa. Representam cerca de 30% do orçamento de um instituto Fraunhofer.

3 - Pesquisas Contratadas (Contract Research): são os projetos pagos direta e puramente pelo parceiro industrial, para a resolução de um problema complexo da própria empresa. Hoje, essas pesquisas representam cerca de 40% do orçamento de um instituto Fraunhofer.

 

Outras formas de Transferência Tecnológica pela Fraunhofer

 

Basicamente, a Sociedade Fraunhofer transfere tecnologia para a sociedade através de 6 caminhos:

1 – Contratos de Pesquisa

2 – Criação de Spin-offs

3 – Cabeças e Carreiras

4 – Educação Continuada (Fraunhofer Academy)

5 – Padronização e Normatização

6 – Licenciamento de Propriedade Intelectual

 

Mas, aqui, é papo para outro artigo de blog.

Quer saber mais detalhes da história da Sociedade Fraunhofer? 

Acesse a Fraunhofer Magazine 2 de 2019 através do link (fonte de maior parte do texto):

https://www.archiv.fraunhofer.de/Fraunhofer_magazine_2_2019/#0

Escrito por:

Dr.-Ing. Rodrigo Pastl