Primeiro projeto agrovoltaico do Brasil será implantado em Minas Gerais, com consultoria da Fraunhofer

A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em parceria com a Cemig, implantará o primeiro projeto agrovoltaico do Brasil, utilizando o know-how do Fraunhofer Chile e sua especialização em energia solar

O projeto agrovoltaico faz parte do Programa PDI Aneel e será implementado no norte de Minas Gerais para ampliar a produção de energia fotovoltaica nas áreas usadas em cultivos agrícolas. A iniciativa propõe instalar uma unidade piloto em Jaíba (MG) acima de uma lavoura de feijão. Posteriormente, outras 10 unidades pilotos serão implantadas nos campos experimentais da Epamig nos municípios de Nova Porteirinha, Jaíba, Patrocínio, Prudente de Moraes, Felixlândia, Oratórios, São Sebastião do Paraíso, Lambari e Três Pontas. 

 

O objetivo do projeto é unir a agricultura e a geração de energia solar em um só espaço. Embora o uso integrado do solo para produção de energia e de alimentos (também conhecido como Sistema Agrovoltaico) seja realizado em diversos países, sua aplicação no clima tropical ainda é incipiente. No Brasil, a instalação das plantas de energia solar geralmente desconsidera o uso do solo para a produção de alimentos, inviabilizando a dupla utilização dos terrenos. O projeto visa integrar essas duas atividades que, atualmente, são realizadas separadamente. Dessa maneira, busca-se aumentar o valor de uso da terra, desenvolver negócios inovadores na região e expandir a geração de energia solar no Brasil.

 

Cada unidade será composta por usinas fotovoltaicas de 75 KVA e por culturas diferentes a depender da região. As culturas incluem, por exemplo, feijão, café, frutíferas, olerícolas, flores, grãos, entre outros. O projeto analisará tanto a produção de energia, quanto o comportamento das culturas (desenvolvimento, produtividade, uso eficiente de água, incidência de doenças, etc).

 

© Fraunhofer Chile

Parcerias e Instituto Fraunhofer

O projeto conta com a consultoria técnica especializada do Instituto Fraunhofer Chile, que realiza pesquisas aplicadas mundialmente e desenvolve tecnologia agrovoltaica. Desde 2023, o instituto colabora com a Epamig e a Cemig, recebendo apoio financeiro da Cemig e da Agência Estatal de Pesquisa e Desenvolvimento de Minas Gerais (FAPEMIG).

 

A responsabilidade do Fraunhofer neste projeto envolve atividades de detalhamento da estratégia do projeto, treinamento e capacitação técnica, análise de dados, criação de design conceituais e instalação dos sistemas. Em agosto de 2023, nas etapas iniciais do projeto, o Fraunhofer Chile realizou treinamento em tecnologias FV e Agro-PV para promover troca de conhecimento necessários para as demais etapas da parceria. 

 

Em entrevista à Agência Minas, o secretário adjunto de Agricultura, João Ricardo Albanez, explicou que “essa é uma inovação em termos de desenvolvimento tecnológico no estado. A Epamig e o Instituto Fraunhofer estão modelando a tecnologia, nas fazendas experimentais da empresa, para que em breve os produtores rurais possam adotá-la para gerar energia e continuar a produção agropecuária simultaneamente”.

 

“Os próximos passos são elaborar o desenho das unidades-piloto e acompanhar a Epamig na implementação delas. No Brasil, existem alguns projetos de AgroPV (sigla para agro-photovoltaics, em inglês), mas em escala muito pequena e com pouca investigação científica. Este é o primeiro grande projeto na área, com pesquisa sobre o impacto da tecnologia na agricultura”, explicou o engenheiro pesquisador do Instituto Fraunhofer, especialista em sistemas agrovoltaicos sustentáveis, David Jung à Secretaria da Agricultura de Minas Gerais.

© Fraunhofer Chile
© Fraunhofer Chile
© Fraunhofer Chile

Potencial energético de Minas Gerais

No Brasil a oferta de energia é majoritariamente hidráulica, seguida pela eólica e a térmica, como mostra o infográfico. A energia solar apresenta apenas 5% da matriz elétrica em 2023, mas têm grande potencial para expansão.

 

Minas Gerais é o estado brasileito com maior potencial para geração de energia solar fotovoltaica. A irradiação total (GHI) do estado apresenta médias anuais de 4,5 a 6,5 kWh/m2 por dia, segundo dados da Cemig (2012). Para simplificar, podemos imaginar que 1 kWh é como uma unidade de 'combustível solar'. Se recebemos entre 4,5 a 6,5 dessas unidades por metro quadrado todos os dias, é como se tivéssemos muito 'combustível solar' disponível para uso, em comparação com lugares com menor irradiação.

 

À PV Magazine, a pesquisadora da Epamig, Polyanna Oliveira, explica o potencial da tecnologia para o setor elétrico mineiro: “Minas Gerais vivencia um crescimento exponencial junto ao setor, que por si só, é o que mais cresce no Brasil. Como é um estado com agropecuária variada e pujante, é justificável a maior quantidade de instalações fotovoltaicas na sua zona rural”. 

 

Mauricio Dall, diretor de Estratégia, Meio Ambiente e Inovação da Cemig, complementa a pesquisadora afirmando que “o projeto tem potencial para revolucionar o setor, tanto pela nossa vocação para a geração solar como pela vocação de Minas Gerais para a produção agrícola”.

Resultados esperados

Ao final do projeto, espera-se gerar tecnologias capazes de serem replicadas em todo o Brasil, incluindo propriedades familiares. Além disso, a proposta do projeto estima o aumento da eficiência do solo e da rentabilidade das produções, a ampliação da produção de energias renováveis e a formação de profissionais altamente capacitados para implantar, conduzir e analisar novos modelos de negócios em outras regiões do país.

 

“O projeto tem potencial de revolucionar o setor, seja pela nossa vocação para geração solar, seja pela vocação para produção agropecuária de Minas Gerais” avalia Maurício Dall’ Agnese, da Cemig, à Secretaria da Agricultura de Minas Gerais..

Texto:

Raissa Raninne

                                                                                         Revisão:

Lívia Moraes